Hoje comemora -se o dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Iniciada em 2003, por iniciativa da Associação Internacional de Prevenção do Suicídio (IASP) e apoiada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) esta comemoração visa anualmente melhorar o esclarecimento acerca do suicídio através da disseminação de informação, diminuição do estigma e, sobretudo, difundir a ideia de que o suicídio é prevenível.
 
O tema de 2009 é a prevenção do suicídio em diferentes culturas.
 
O suicídio representa anualmente cerca de um milhão de mortes, prevendo-se que este número aumente para 1,5 milhões em 2020, segundo a OMS. Cerca de um quarto das mortes afectam jovens até aos 25 anos, representando aproximadamente 20 milhões de anos de vida potencialmente perdidos. Actualmente o número de suicídios representa mais que o somatório das mortes em guerras e homicídios.
 
Na Europa as taxas de suicídio mais elevadas têm origem nos países de leste, nomeadamente Lituânia, Estónia, Bielorrússia e a Federação Russa, variando as taxas entre 45 e 75 por 100.000 habitantes e por ano. As taxas mais baixas registam-se em países da Europa Mediterrânica e em países islâmicos, onde a taxa é inferior a 6. Na maioria dos países da América do Norte, Europa e Australásia as taxas oscilam entre 10 e 35 suicídios por 100.000 habitantes. Por cada suicídio consumado estima-se que haja cerca de 20 a 30 comportamentos suicidários, em que só um quarto tem contacto com os serviços de saúde.
 
Em Portugal ocorrem aproximadamente mil suicídios por ano, principalmente na Grande Lisboa, Alentejo e Algarve. Perante esta peculiar assimetria, a Sociologia e a Psiquiatria há muito que revelaram o retrato do que se vê ao sul do Tejo: desertificação, envelhecimento populacional, desemprego, migração, desesperança, ausência de práticas religiosas, tendência à depressão, falta de apoios medico-sociais, etc. De salientar que os números do suicídio do século XXI duplicaram em relação à década de 90 no nosso país. Para além disso, deverão dar entrada, anualmente, nos Serviços de Urgência cerca de 20 a 30 mil casos de comportamentos suicidários.
 
O suicídio é um fenómeno multifacetado e multicausal. Tem factores de risco biológicos, culturais, sociais e psicológicos. Contudo, pode ser prevenido. A nível geral a limitação do acesso a métodos de suicídio, nomeadamente armas de fogo e pesticidas, reduz as taxas de suicídio. Uma informação cuidada acerca de casos públicos de suicídio previne futuros impactos do suicídio. Melhor educação das populações, serviços de saúde e profissionais permite uma melhor e mais precoce identificação dos casos de risco e contribui para uma procura eficaz dos serviços de saúde, levando a uma redução de suicídios no seio de pessoas com doença mental. Providenciar suporte aos familiares em luto por suicídio também reduz o risco de suicídio.
 
Em Portugal os serviços especializados de acompanhamento e intervenção junto de populações de risco estão, ainda, maioritariamente centrados em hospitais com as valências de psiquiatria, alguns com serviços específicos, mas o alargamento de uma rede de prevenção a partir dos cuidados primários de saúde fortaleceria a detecção precoce e a prevenção do suicídio. Por outro lado, a formação de recursos humanos nesta área permitiria um melhor esclarecimento e facilitaria a intervenção. A Sociedade Portuguesa de Suicidologia (www.spsuicidologia.pt) tem vindo a debater e a formar técnicos de saúde para a prevenção e intervenção nesta área.
 
A multiplicidade de causas do suicídio sugere não só a necessidade e o imperativo de uma intervenção consistente no plano das políticas sociais mas também a concretização de um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio para a área da saúde. É que o desespero não pode esperar!
 
 
* Enfermeiro. Professor Doutor. Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Membro dos Órgãos Sociais da SPS
** Psiquiatra. Professor Doutor. Hospitais da Universidade de Coimbra. Coordenador da Consulta de Prevenção do Suicídio. Ex-presidente da SPS

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